Reconstruído em forma de cordel, gênero literário brasileiro que trabalha rima e ritmo dos textos, a peça dialoga com a influência da cultura nordestina e dos cantores populares preservando a história de Hamlet, príncipe que quer vingar a morte do seu pai
Preservando a estrutura dramática de uma das peças mais populares do inglês William Shakespeare, Hamelete – O Cordel, do Grupo Careta, é uma adaptação que transforma reinos em fazendas e soldados em funcionários dos senhores de terra. O espetáculo dirigido por Lívia Simardi e adaptado por Octávio da Matta foi premiado no 5º Festival de Teatro Cidade de São Paulo nas categorias Figurino, Produção, Ator Coadjuvante e Melhor Espetáculo. No Teatro APCD, haverá apresentações da peça dias 27 e 28 de fevereiro, sábado, 21h, e domingo, 19h.
Ao trabalhar com a versatilidade das formas e ritmos,Hamelete – O Cordel oferece a possibilidade de uma leitura na qual o peso da tragédia é minimizado, mas sem ausentar o aspecto reflexivo da obra.
O espírito popular do texto foi mantido, bem como a caracterização de personagens femininas construídas por atores, o que reproduz a realidade do período elisabetano. A proposta de uma leitura em cordel dialoga com o texto shakespeariano e com as tradições da poesia popular ibérica e suas ressonâncias na cultura brasileira.
Seguindo a veia épica, onde muitas das histórias costuram a tensão trágica, a presente adaptação mantém a estrutura dramática dos atos, incorporando às cenas, em momentos específicos, a presença de narradores-personagens, aproximando-o do corifeu das tragédias gregas (o corifeu, muito utilizado nas tragédias gregas, era quem anunciava partes isoladas do texto e podia dialogar com os atores).
A correspondência da maioria das personagens obedece ao original. Alguns nomes foram adaptados devido à natureza linguística e cultural. Os reinos foram transformados em fazendas e os soldados são funcionários dos senhores de terra. O que se pretendeu foi trazer uma realidade identificada aos elementos populares da cultura brasileira, sem comprometer o enredo e a força universal da peça.
A história de Hamlet, contada em cordel como uma gesta (cantiga medieval) popular, busca ser uma homenagem à universalidade do maior dramaturgo de todos os tempos; e, consubstanciada na tradição secular do cordel, traz o imaginário de Shakespeare mais perto da nossa cultura; um imaginário que pertence à história do mundo.
Falar de Shakespeare é falar sobre a nossa própria constituição como civilização ocidental. Segundo Harold Bloom, um dos mais importantes pesquisadores não somente deste autor, mas da literatura ocidental, as personagens shakespearianas influenciaram nosso imaginário, a maneira como compreendemos determinados sentimentos, nossa própria forma de ver o mundo. Não seria um exagero completo dizer que Hamlet inventou Freud. Foi popular e erudito a um só tempo. Sua obra compreende dramas históricos, tragédias, comédias, “peças romance”, poesia. Em qualquer uma dessas frentes seu gênio é incontestável, ainda que polêmicas de todo o tipo sejam cultivadas em torno da autoria de suas peças e mesmo de sua existência.
A universalidade de sua obra permite infinitas leituras e recontextualizações. Neste sentido, a adaptação para literatura cordel de Hamlet cria paralelos entre as variações dos versos elisabetanos e as metrificações do cordel, construindo na dinâmica dos diálogos alterações que alicerçam diferentes ritmos e nuances entre personagens, recurso idêntico ao usado pelo autor no texto original. Aproxima de um universo que nos é próximo sem caricaturar o texto nem apelar para estereótipos da cultura nordestina. Hamelete dá novo fôlego ao desafio perene de se encenar Hamlet.
Sobre a Diretora
Lívia Simardi - Diretora, Atriz e Pesquisadora do Corpo
Formou-se no Curso de Habilitação Profissional Técnico Ator, Criação e Direção, pelo Teatro Escola Macunaíma, em 2007. No ano seguinte, formou-se no Curso Comunicação das Artes do Corpo pela PUC - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, e está graduada em Teatro/Licenciatura pela Universidade Anhembi Morumbi.
Atualmente aperfeiçoa sua técnica corpórea no Estúdio Luis Louis – Centro de Pesquisa e Formação da Mímica Total do Brasil.
Em 2010, 2011 e 2012 participou do Festival de Teatro da Cidade de São Paulo, como diretora de três grupos independentes e foi indicada como melhor diretora e melhores espetáculos.
Sobre o Grupo Careta
O empresário e ator Luizinho Beltrame e sua esposa, a atriz e diretora Lívia Simardi, uniram suas experiências na área do teatro e criaram o Grupo Careta em 2014. Apesar de a Companhia ser recente no mercado, o casal de atores está no meio teatral há mais de seis anos. A Companhia tem a visão de agregar informação e sonhos através do entretenimento e humor. “Acreditamos que a melhor forma de comunicar é em parceria com a Arte”.
Serviço
Hamelete – O Cordel. Dias 27 e 28 de fevereiro, sábado (21h) e domingo (19h), no Teatro APCD. Endereço: Rua Voluntários da Pátria, 547, Santana (próximo ao metrô Tietê). Bilheteria: Quarta a sábado, das 15h às 22h; domingo, das 15h às 20h. www.compreingressos.com / Telefone: (11) 2223-2424. Classificação: Livre. Duração: 60 minutos. Capacidade: 800 lugares. Ingressos: R$ 50 (inteira), R$ 25 (meia) e R$ 20 (sócios e funcionários APCD).
Ficha Técnica
Texto: Octávio da Matta. Direção: Lívia Simardi. Elenco: Alberto Vizoso (Ofélia, Cacto, Polônio e Fortimbrás), Lívia Simardi (Narradora), Luizinho Beltrame (Hamelete), Marcelo Jacob (Laertes, Cacto e Espectro), Octávio da Matta (Rei Cláudio), Patrícia Palhares (Narradora) e Yves Carrasco (Gertrudes e Cacto).Light Designer: Marcelo Jacob. Sonoplastia: Âmer Menegassi. Técnico de som e luz: Âmer Menegassi. Figurinos: Milton Fucci. Modelista e Costureira:Elisângela Dally. Cenário: Lívia Simardi. Cenotécnico: João Pereira da Silva.Visagismo: João Marcelo Basil. Visagista Assistente: Ana Ariosa.Coordenadora de Produção: Patrícia Palhares. Produtora Executiva: Tamiris Ferreira. Programação visual: Tamiris Ferreira
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