terça-feira, 22 de outubro de 2013

Cácia Goulart estreia texto inédito, no Brasil, da obra de Tolstói: A Morte de Ivan Ilitch

Após cinco anos em cartaz com o bem-sucedido Bartleby, baseado na obra de Herman Melville, a atriz Cácia Goulart retorna aos palcos com projeto autoral e inédito. A Morte de Ivan Ilitch, adaptada do clássico homônimo do autor russo Liev Tolstói, estreia em São Paulo dia 30 de outubro com uma delicada e contundente reflexão sobre vida e morte.

Ao mobilizar um aparato literário sofisticado em torno da trajetória patética de um homem mediano, tornado moribundo no auge da sua ascensão, Cácia Goulart coloca em movimento um assombroso exame de consciência que põe por terra toda a farsa que reveste e sustenta a representação social e ontológica que temos de nós mesmos.

Cácia Goulart: Para um tempo em que falar da morte é obsceno e improdutivo
A Morte de Ivan Ilitch, de Tolstói
Foto: Cacá Bernardes


Para a atriz, a triste figura de Ivan Ilitch se impõe e se atualiza como o reflexo espectral do homem contemporâneo. Porque o imperativo burguês triunfou em proporções planetárias, e o homem aí produzido se instituiu, se reproduziu e foi naturalizado. É a este homem,  portanto, alojado em cada um de nós, que Ivan Ilitch insiste em provocar, exortando-nos pelo seu testemunho de moribundo, a uma tomada de consciência radical sobre a vida que nos foi legada e sobre a que pretendemos legar.



Cácia Goulart

Ao longo dos seus 15 anos de carreira, a atriz Cácia Goulart tem se destacado por desenvolver uma proposta que associa literatura à expressão teatral, trazendo à tona os temas mais pungentes da condição humana. Assim foi com Bartleby, de Herman Melville, sucesso de crítica ao longo dos cinco anos em que esteve em cartaz em diversas salas brasileiras, e que rendeu à Cácia indicação ao Prêmio Shell/SP de melhor atriz, em 2008.

Agora, pela primeira vez em trabalho solo, Cácia Goulart redescobre em outro clássico literário tema e abordagem que tocam de perto o homem do nosso tempo. Tão de perto, aliás, e tão incômodos, que não se tem feito mais do que interditá-los, condenando-os à uma zona de silêncio e de cinismo: o nosso tempo é relutante em admitir a própria finitude, morrer ou falar da morte é “improdutivo”. Disposta a tratar honestamente da questão, tocando nesse calcanhar de Aquiles da pretensa autossuficiência do homem contemporâneo, Cácia se desdobra na atuação, direção e dramaturgia do novo espetáculo, A Morte de Ivan Ilitch, baseada no clássico homônimo do escritor russo Liev Tolstói a partir da tradução de Boris Shnaiderman. O mais famoso moribundo da literatura universal vem então se juntar à galeria de homens infames que a atriz costuma dissecar nos palcos.

A montagem de A Morte de Ivan Ilitch, por Cácia Goulart

Em 2010, após velar a mãe por dois meses em seu leito de morte, vítima de um câncer na vesícula, Cácia viveu uma experiência que a fez questionar profundamente o absurdo de sermos para a morte. Durante o luto, releu a obra de Tolstói. Agora, aos 45 anos, idade que coincide com a morte do personagem Ivan Ilitch, a atriz traz para o processo criativo a sua própria narrativa, emoldurada nos embates desencadeados pela abordagem da obra. Traz também suas paisagens internas, constituídas por uma Minas Gerais ambígua, eloquente e ao mesmo tempo gótica, similar, simbologicamente, à Rússia descrita por Tólstoi.

Nesta livre adaptação dramatúrgica feita na parceria entre a atriz e o também ator Edmilson Cordeiro, o espetáculo se serve de dois planos paralelos e complementares: o primeiro é o da atriz em cena, enunciando as bases da trama ou jogo cênico em vias de armar-se, sinalizando com habilidades e recursos narrativos a contextura de uma história que se desenrola. O segundo plano, solidário ao primeiro, desemboca na figura de Ivan Ilitch posta em cena por força da interpretação.

Com cenário intimista de André Cortez, figurinos de Marina Reis e iluminação de Lúcia Chedieck, a plateia é convocada a participar das mais sutis pulsações do embate decisivo entre vida e morte na alma humana. O adensamento do clima e as nuances poéticas e humorísticas se desenrolam num universo em preto e branco, evocando um filme noir que imprime o tom de mistério à falência de uma vida controlada, destituída do colorido de uma vida plena. A música original composta por Marcelo Pellegrini sustenta e pontua a estrutura dramatúrgica, arrematando a ambiência do espetáculo.
           
Imortalidade da obra

A novela A morte de Ivan Ilitch, de Liev Tolstói (1828-1910), é considerada universalmente a mais perfeita obra do gênero do século XIX. Publicada no ano de 1866, a obra disseca a alienação burguesa emergente na Rússia do final do século XIX e a profunda cisão entre o homem e a sua essência, decorrente da reificação avassaladora de um sistema que barganha liberdade por bens materiais, e que perdura até os dias de hoje na sua plena potência literária.

Segundo Boris Schnaiderman, cuja tradução para o português serve de base para a livre adaptação do espetáculo, trata-se de uma dessas obras que convidam à veneração, ao lado de Sonata a Kreutzer, Anna Kariênina e Guerra e Paz, outras três obras-primas do gênio russo.
           
Cácia Goulart

Atriz formada pelo INDAC, atuou nos seguintes espetáculos: “O Abajur Lilás ou uma Medeia Perdida na Augusta”, dir: Joaquim Goulart; “Dissidente”, de Michel Vinaver; Dir: Miriam Rinaldi; “Bartleby”, de José Sanchis Sinisterra; dir Joaquim Goulart; Edmond, de David Mamet, direção de Ariela Goldmann; BR3, de Bernardo de Carvalho, direção de Antonio Araújo (Teatro da Vertigem); Navalha na Carne, de Plínio Marcos, direção de Joaquim Goulart; Quando as Máquinas Param, de Plínio Marcos, Dir. Joaquim Goulart; Cegonha, Avião... Mentira, Não!, premiado musical infantil com direção de Joaquim Goulart; Histórias Para Cantar, Dir.André Guerreiro Lopes; O Anti-Shakespeare, com direção de Marco Antonio Braz; Tróilo e Créssida de Shakespeare com direção de Paula Coelho; Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente, com direção de Marcos Antunes; Sombras de Nelson Rodrigues, com direção de Hélio Cícero; Casos de Família, com direção de Marco Antonio Pâmio.
-Indicação Prêmio Shell 2008/SP:Melhor Atriz/Bartleby
-Indicação Prêmio Shell 2003/SP:Melhor Atriz/Navalha na Carne

SERVIÇO
Espaço Redimunho de Teatro
Rua Álvaro de Carvalho, 75 (Próximo ao metrô Anhangabaú)
Quando: de 30 de outubro a 07 de dezembro de 2013
Quarta à Sábado às 20h
Telefone: (11) 3101.9645
Ingressos serão vendidos com 02 horas de antecedência na bilheteria do Teatro (quarta à sábado)
Valor: R$20,00 e R$10,00 (meia)
Lotação: 50 espectadores
Dinheiro ou cheque

FICHA TÉCNICA
A Morte de Ivan Ilitch
De: LIEV TOLSTÓI
Livre adaptação a partir da tradução de BORIS SHNAIDERMAN- Editora 34
Dramaturgia: EDMILSON CORDEIRO e CÁCIA GOULART
Direção e atuação: CÁCIA GOULART
Assistente de Direção: INÊS ARANHA
Cenografia: ANDRÉ CORTEZ
Desenho de Luz: LÚCIA CHEDIECK
Música original: MARCELO PELLEGRINI
Figurinos/Visagismo: MARINA REIS
Fotografia: CACÁ BERNARDES
Idealização: CÁCIA GOULART
Realização: NÚCLEO CAIXA PRETA DA COOPERATIVA PAULISTA DE TEATRO

* O projeto venceu o edital de produção e temporada de espetáculos inéditos do ProAC 2012, por meio da Cooperativa Paulista de Teatro.


Informações à imprensa
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Márcia Marques
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